AFINAL, JESUS FOI OU NÃO PREGAR NO INFERNO?

JESUS DESCEU MESMO AO INFERNO?


Jesus desceu ao inferno entre Sua morte e ressurreição?


Jesus foi ao Inferno no período entre Sua morte e ressurreição?


Há bastante confusão em relação a esta pergunta. Este conceito vem principalmente do Credo dos Apóstolos, que afirma: “Ele desceu até o Inferno. Há também algumas poucas Escrituras que, dependendo de como são traduzidas, descrevem a ida de Jesus ao “Inferno”.


Estudando esta questão, é importante que primeiramente possamos compreender o que a Bíblia nos ensina a respeito da “esfera” dos mortos.


Jesus desceu ao inferno entre Sua morte e ressurreição?


Jesus foi ao Inferno no período entre Sua morte e ressurreição?


Estudando esta questão, é importante que primeiramente possamos compreender o que a Bíblia nos ensina a respeito da “esfera” dos mortos.Nas Escrituras Hebraicas, a palavra usada para descrever a esfera dos mortos é “Seol”. Esta palavra simplesmente significa “lugar dos mortos” ou o “lugar das almas/espíritos que partiram”. A palavra grega do Novo Testamento que é usada para inferno é “Hades”, que também se refere ao “lugar dos mortos”. Outras Escrituras no Novo Testamento indicam que Seol/Hades é um lugar temporário, onde as almas ficam enquanto aguardam a ressurreição e julgamento final.


Apocalipse 20:11-15 dá a distinção clara entre os dois.


REFLEXÃO DO TEXTO DE 1 PEDRO 3

A Descida de Jesus ao Inferno: 1 Pedro 3, 18-22.

Pois também Cristo sofreu pelos pecados uma vez por todas, o justo pelos injustos, para conduzir-nos a Deus. Ele foi morto no corpo, mas vivificado pelo Espírito, no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão que há muito tempo desobedeceram, quando Deus esperava pacientemente nos dias de Noé, enquanto a arca era construída. Nela apenas algumas pessoas, a saber, oito, foram salvas por meio da água, e isso é representado pelo batismo que agora também salva vocês — não a remoção da sujeira do corpo, mas o compromisso de uma boa consciência diante de Deus — por meio da ressurreição de Jesus Cristo, que subiu ao céu e está à direita de Deus; a ele estão sujeitos anjos, autoridades e poderes. 1 Pedro 3:18-22


Será que Jesus realmente desceu até as regiões infernais?


Ou melhor, será que 1 Pedro 3:18-22 pode servir de base para existência desse tipo de crença?


Então, Jesus aproximou-se deles e disse: "Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Mateus 28:18


Teus, ó Senhor, são a grandeza, o poder, a glória, a majestade e o esplendor, pois tudo o que há nos céus e na terra é teu. Teu, ó Senhor, é o reino; tu estás acima de tudo. 1 Crônicas 29:11


Depois ouvi todas as criaturas existentes no céu, na terra, debaixo da terra e no mar, e tudo o que neles há, que diziam: "Àquele que está assentado no trono e ao Cordeiro sejam o louvor, a honra, a glória e o poder, para todo o sempre! " Apocalipse 5:13


"Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem, e todas as nações da terra se lamentarão e verão o Filho do homem vindo nas nuvens do céu com poder e grande glória. Mateus 24:30


Pois, nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos ou soberanias, poderes ou autoridades; todas as coisas foram criadas por ele e para ele. Colossenses 1:16


Por esses versículos não temos dúvida alguma do poder e autoridade de Jesus, sabemos que Ele poderia muito bem ir onde bem quisesse.


Peça ao Senhor, ao seu Deus, um sinal miraculoso, seja das maiores profundezas, seja das alturas mais elevadas. Isaías 7:11


Nas suas mãos estão as profundezas da terra, os cumes dos montes lhe pertencem. Salmos 95:4


DEMÔNIOS OU HUMANOS?


Quem eram os espíritos citados no texto? Seriam eles os demônios ou espíritos humanos?


No texto supracitado, nos versos de 1 Pedro do 13 ao 18, o texto parece consolar os destinatários da carta aproximando os sofrimentos da comunidade ao sofrimento de Cristo. Vemos relatos sobre perseguições, difamações e calúnias por parte dos seus concidadãos na Ásia Menor. Não podemos entrar em detalhes sobre isso, basta-nos saber que a intenção da carta desejava fortalecer e consolar um grupo de peregrinos convertidos ao Cristianismo.


O texto diz ser melhor antes sofrer injustamente por causa do bom procedimento em Cristo, do que justamente por ações dignas de condenação. E mais, ele fortalece sua argumentação usando como paradigma o sacrifício de Cristo, que representa um justo sofrendo consequências injustas, com um único propósito: “para conduzir-vos a Deus” (v.18), ou seja, se o caminho de salvação dos destinatários construiu-se exatamente na lógica do sofrimento injusto do justo, no programa da vontade de Deus, o que impediria os dependentes desse processo não passarem pela mesma experiência de injustiça? É tanto, que no verso 17 o texto evoca a vontade de Deus para falar do sofrimento da comunidade. 

Essa experiência de dor, por mais confusa que fosse, indicava uma participação na mesma vivida por Jesus. Contudo, esse que morreu em carne foi vivificado no espírito (v.18).No contexto do versículo 19 aparece a intrigante afirmação: “no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão...” (v.19).


Quem eram os espíritos citados no texto? Seriam eles os demônios ou espíritos humanos?


Quem seriam os espíritos?


Na continuidade do texto somos informados que esses foram, em outro tempo, desobedientes a Deus (v.20).


Em que ocasião ocorreu essa desobediência?


O texto informa: nos dias de Noé, na ocasião do dilúvio. Pronto!, o texto diz que os espíritos aprisionados no contexto do dilúvio receberam algum tipo de proclamação de Jesus. Até pouco tempo tinha-se a ideia de uma possível pregação do evangelho aos mortos no dilúvio, porque o texto usa o verbo kerysso (anúncio), mas isso é muito improvável, como veremos.


A respeito de que o texto está falando?


Esses espíritos receptores da proclamação de Jesus seriam espíritos humanos?
Agostinho diria que sim, mas as pesquisas atuais afirmam definitivamente que não.Para entendermos melhor o texto e colocarmos um pouco de luz nas questões levantadas, podemos ler a passagem utilizando o silogismo, ou seja, um diálogo com várias pessoas. Por isso, a pergunta que devemos fazer ao texto de 1 Pedro 3-19 é a seguinte: com quais enunciados, ou com quais discursos, esse texto está dialogando? Isso nos ajudará na descoberta da identidade dos espíritos no texto.


Uma boa hipótese para a leitura de 1 Pedro é aproxima-lo à tradição apocalíptica do Judaísmo do Segundo Templo. Refiro-me, especificamente, ao Livro dos Vigilantes, que por sua vez está preservado na obra apócrifa conhecida como I Enoque (esta obra é composta por cinco livros).


A data deste conjunto de cinco livros perpassa o terceiro século antes de Cristo e o segundo depois de Cristo. A coleção começa com o já citado Livro dos Vigilantes, que cobre os 36 primeiros capítulos de I Enoque. Dentro do Livro dos Vigilantes encontramos o Mito dos Vigilantes – este em duas versões: cap. 6-11 e cap. 12-16.
O mito narra a ocasião quando alguns anjos atraídos pela beleza das mulheres desceram à Terra e escolheram algumas entre elas. Esses anjos são chamados de Vigilantes, por isso o epíteto Mito dos Vigilantes.
Da relação dos anjos e mulheres nasceram os gigantes, gerando muitas mortes e caos.


Naqueles dias havia nefilins na terra, e também posteriormente, quando os filhos de Deus possuíram as filhas dos homens e elas lhes deram filhos. Eles foram os heróis do passado, homens famosos. Gênesis 6:4


Nefilim (hebraico:. נְפִילִים) termo derivado do hebraico naphal (ele caiu), é um termo que ocorre duas vezes na Bíblia, em Gênesis 6:4 e Números 13:33. A Septuaginta traduziu o termo pela palavra grega que significa, literalmente, nascido da terra, e as traduções seguintes verteram o termo para gigantes.

A narrativa enoquita diz, também, que no contato com as mulheres, os Vigilantes as ensinaram segredos como manipulação do ferro para construção de armas, uso de adornos e magia. Com o sangue derramado na terra, por causa dos gigantes e dos ensinos celestiais, Deus manda um dilúvio e prende os Vigilantes. 

Na segunda versão do mito, nos capítulos 12-16, aparece Enoque indo até esses espíritos aprisionados (os Vigilantes) para levar-lhes um anúncio de condenação, por causa da desobediência geradora de consequências catastróficas, narrada nos versos 6-11.


Ora, a terra estava corrompida aos olhos de Deus e cheia de violência. Ao ver como a terra se corrompera, pois, toda a humanidade havia corrompido a sua conduta, Deus disse a Noé: "Darei fim a todos os seres humanos, porque a terra encheu-se de violência por causa deles. Eu os destruirei juntamente com a terra. Gênesis 6:11-13


Qual a ligação com o livro de Gênesis, de Enoque, com o novo testamento?


Talvez você me pergunte: O que isso tem a ver com o Novo Testamento?


Eu, te responderei: Tudo! O livro de I Enoque foi muito importante para o Judaísmo, a ponto de aparecer em várias outras obras judaicas do Segundo Templo, e também para o Cristianismo.
Podemos tomar como exemplo o livro de Judas, onde é citada uma profecia de Enoque.


Enoque, o sétimo a partir de Adão, profetizou acerca deles: "Vejam, o Senhor vem com milhares de milhares de seus santos, para julgar a todos e convencer a todos os ímpios a respeito de todos os atos de impiedade que eles cometeram impiamente e acerca de todas as palavras insolentes que os pecadores ímpios falaram contra ele". Judas 1:14,15


No Antigo Testamento, Enoque profetiza?


Respondo: em lugar nenhum! Mas, observando, mesmo que superficialmente, os versos 14-15 de Judas, percebemos a citação literal de I Enoque 1-9. Ou seja, para que Judas citasse esse texto como uma profecia seria necessária alguma influência dessa literatura no período do Novo Testamento.


E mais, a ideia de anjos aprisionados do verso 6 pode lembrar a mesma história preservada no livro de I Enoque. Esses são exemplos gritantes, mas outros mais implícitos poderiam ser expostos aqui (inclusive, a igreja Cristã etíope tinha o livro de I Enoque em seu cânon).


Fizemos um passeio pelas escrituras sagradas e vamos retornar agora na origem de 1 Pedro.É muito provável uma relação dialógica entre esse texto, a Genesis, e Enoque (Livro dos Vigilantes). De Enoque, como dizia a tradição judaica, I Pedro transporta para Jesus a ação de ir aos espíritos que estão aprisionados desde a época do dilúvio. Então, provavelmente os espíritos citados em 1 Pedro 3:19 são os Vigilantes, que por terem desobedecido às ordens de Deus, causando muitos malefícios a humanidade, foram aprisionados.


Podemos afirmar que Jesus desceu ao inferno?


Outra questão nessa discussão é se realmente o texto fala sobre "descida", que rapidamente alguns interpretam como ao inferno. O particípio do verbo poreúomai (tendo ido), do verso 19, não tem sentido necessariamente de “descer”. Este verbo é utilizado na literatura do Novo Testamento, para falar da “ascensão” de Jesus (At 1:10-11; Jo 14:16).


E, em I Pedro 3:22 é usado no sentido de “subir" e não “descer”. O próprio livro de II Enoque (Séc. II d.C), que tem dependência de I Enoque, e o Testamento de Levi (Séc. I a.C), afirmam que os Vigilantes decaídos foram colocados no segundo céu. Por isso, é mais provável pelo contexto de 1 Pedro e da literatura antiga, a presença da ideia de que Jesus "subiu" (até o céu?), e, anunciou algo aos “espíritos em prisão”.


A descrição de Jesus Cristo e sua atividade pós-morte em 1 Pedro 3:18-22, faz uso claro dos temas e linguagem contidas em 1 Enoque 6-16, descrevendo Cristo como uma figura de Enoque ascendendo ao céu e anunciando a condenação para os angélicos espíritos punidos e aprisionados dos tempos de Noé.


Os espíritos presos que se refere o texto é uma lembrança dos Vigilantes da narrativa do Mito dos Vigilantes, os quais além de serem aprisionados estavam esperando para o fim dos tempos a condenação escatológica (que em I Enoque seria o dilúvio).


Minha conclusão:


Assim, em 1 Pedro 3:19 não encontramos base para a tão conhecida "descida de Jesus ao inferno", mas um indício de como I Enoque pode nos ajudar a compreender alguns textos complicados da literatura cristã, porque ecoam imagens, ideias e imaginário da literatura dos livros de Enoque.


Quando Jesus subiu aos Céus, Ele levou consigo os ocupantes do Paraíso (os crentes) (Efésios 4:8-10). O lado perdido do Seol/Hades permaneceu intacto. Todos os mortos incrédulos para lá vão e esperam seu futuro julgamento final.


Por isso é que foi dito: "Quando ele subiu em triunfo às alturas, levou cativo muitos prisioneiros, e deu dons aos homens".Que significa "ele subiu", senão que também descera às profundezas da terra?Aquele que desceu é o mesmo que subiu acima de todos os céus, a fim de encher todas as coisas. Efésios 4:8-10


Jesus foi ao Seol/Hades?


Sim, de acordo com Efésios 4:8-10 e I Pedro 3:18-20.Porém, temos algumas confusões textuais em alguns versículos dos quais podem ter uma figura de linguagem, ou, até mesmo algumas circunstâncias culturais de época e região.


Parte desta confusão surgiu de passagens como Salmos 16:10-11: “Pois não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção. Far-me-ás ver a vereda da vida...” “Inferno” não é a tradução correta deste versículo.
Uma leitura correta seria “a sepultura” ou “Seol”.

Na Cruz, anos mais tarde, Jesus disse ao ladrão ao Seu lado: “Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso” (Lucas 23:43).
O corpo de Jesus por algum tempo esteve na tumba; contudo, sabemos que seu espírito foi para o lado do “Paraíso” de Seol/Hades. Então, Ele removeu do Paraíso todos os justos que já haviam morrido e, por ocasião não conheceram a Jesus, mas, que em vida esperavam o messias vir e os levou consigo aos Céus.


Infelizmente, em muitas traduções da Bíblia, os tradutores não são consistentes ou corretos quando traduzem as palavras hebraica e grega para “Seol”, “Hades” e “Inferno”.


Alguns defendem o ponto de vista de que Jesus foi ao “Inferno” ou ao lugar de sofrimento do Seol/Hades a fim de receber ainda mais punição por nossos pecados. Essa ideia não tem nenhum respaldo bíblico. Foi a morte de Jesus na Cruz e Seu sofrimento em nosso lugar que, de forma suficiente, promoveram a nossa redenção.


Seu sangue derramado que validou o perdão dos nossos pecados (I João 1:7-9). Quando estava pendurado na Cruz, Ele tomou sobre Si o fardo do pecado de toda a raça humana. Ele se fez pecado por nós:


“Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” (2 Coríntios 5:21).


O peso do pecado nos ajuda a compreender pelo que passou Cristo no Jardim do Getsêmani em sua luta com o cálice do pecado que sobre Ele seria derramado na cruz.


Na Cruz, Cristo, com grande voz exclamou:


Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?,e foi neste exato momento que foi separado do Pai por causa do pecado sobre Ele derramado. Quando entregou o Seu espírito, disse: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”.


Seu sofrimento em nosso lugar estava completo. Sua alma/espírito foi à parte do Hades correspondente ao Paraíso.


Jesus não foi ao Inferno. O sofrimento de Jesus terminou no momento em que morreu. O pagamento pelo pecado estava feito. Ele então aguardou a ressurreição do Seu corpo e o retorno glória durante a ascensão.


Jesus foi ao Inferno? Não.
Jesus foi ao Seol/Hades? Sim.


Poderíamos nos aprofundar um pouco mais nos detalhes, porém, estaremos nos desviando do tema principal.Além disso, há uma certa incerteza e curiosidades a respeito dos nefilins e dos filhos da criação. Contudo, esses temas virão em um tempo oportuno.          





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